terça-feira, 25 de outubro de 2011

Nina Hartley


Hartley nasceu em Berkeley, Califórnia, em 1959. Filha de pai luterano e de mãe judia, é a caçula de quatro filhos. Seus pais se converteram ao budismo quando ela era adolescente. Depois do colegial, começou a estudar enfermagem. Em 1982, durante seu segundo ano na escola de enfermagem, ela começou a trabalhar como stripper em San Francisco.  Começou a atuar em filmes pornográficos em 1984. Formou-se em enfermagem em 85, e trabalha até hoje na indústria pornô.


Ela considera a si mesma como uma bissexual, feminista e exibicionista. Afirma que entrou neste negócio para expressar suas próprias idéias a respeito de sexo e ajudar as mulheres a se libertarem de seus medos e a descobrirem uma nova maneira de encarar o prazer sexual.


Inteligente e articulada, sempre atuou como porta voz e defensora do mercado pornô, com forte presença na mídia. Escolhi resenhar a Nina porque tenho um respeito fortíssimo pela inteligência dela. Coloco a seguir um trecho de uma entrevista sua:
"As mulheres sempre foram usadas para colocar outras mulheres na linha. E aqui na América há algo chamado de "vergonha vadia", quando as mulheres normais usam os termos "vagabunda" ou "puta" para constranger as outras mulheres e corrigir o seu comportamento. Assim, "vagabunda" é alguém que você não aprova o sexo. Ou o tipo de sexo que eles não aprovam, ou a quantidade de sexo que você não aprova. A idéia é que se o seu comportamento sexual me incomoda, em vez de assumir a responsabilidade por meus sentimentos, vou atacar e tentar pará-lo. 
Sexo e sexualidade afetam a todos. Todo mundo precisa de contato humano. Os seres humanos são criaturas sociais. Precisamos tocar. Precisamos de contato. E muitas pessoas sofrem por causa da cultura. Não importa se a sua cultura ou a minha cultura. Nenhuma cultura é realmente positiva com o sexo. Cada cultura tem seus problemas com o sexo. Algumas têm mais problemas do que outras. A religião trava uma guerra de milhares de anos contra o corpo e contra o prazer, como se sentir-se bem fosse algo diabólico e repulsivo a Deus. 
A realidade é que você se sente bem fazendo o sexo que te apetece e eu me sinto bem com a vida sexual que quero, e ambos podemos ser felizes com as nossas vidas. Mas o código não permite isso, porque como disse alguém: "A virtude das mulheres é a melhor invenção do homem". 
E assim como toda moeda tem dois lados, você não pode criar o mito da virgem sem criar também  o mito da puta. Porque na nossa cultura só precisa de um pequeno deslize para que uma virgem se converta numa puta. Um erro e é uma cadela, é uma vergonha, é expulsa do clube das boas meninas. 
E quando uma mulher é expulsa do clube das boas meninas, podemos agredi-la. Podemos prendê-la, atacá-la, levar seus filhos .... Podemos obter favores sexuais dela"
Fragmento da entrevista com Nina Hartley publicada em junho de 2010 na revista “Rock´n´Roll Popular Magazine”


Praqueles que se interessaram por ela, entrem em seu site, é bem interessante:


E pra quem tiver aí torcendo o nariz por eu ter resenhado uma mina do pornô, coloco a seguir dois trechos de estudos sobre pornografia que acredito ser pertinentes.

“Desde seu início, a mulher é mostrada no universo pornô nestes dois registros analisados: submissa ao desejo masculino e ao mesmo tempo portadora de uma sexualidade voraz e insana. Como um instrumento para a satisfação do homem, o corpo feminino apresenta-se sempre disposto ao coito, pronto para as práticas mais inacreditáveis que visam, antes de tudo, a excitação do público masculino. (...) Ainda assim, existe uma linha mais alternativa de pornografia, incluindo aí os filmes de temática sadomasoquista/fetichista/bizarros, de produtoras pequenas e independentes, que tendem a fugir deste padrão que utiliza o corpo da mulher apenas como instrumento do gozo masculino. Vários destes filmes apresentam mulheres no comando da produção e direção, além de trabalharem como atrizes principais. O prazer é mostrado tendo como ponto de referência a mulher, e muitas vezes os homens estão em cena apenas para compartilhar o gozo feminino. Este tipo de produção mostra claramente que na pornografia tanto o corpo masculino quanto o feminino são meios para o gozo do outro, especialmente do espectador”
Jorge Leite Jr, Das Maravilhas e Prodígios Sexuais, Annablume, 2006.

“Uma visão patriarcal a respeito da utilização da pornografia hard core pode estar em discussão, mas nos pornovídeos essa questão me parece, hoje, secundária. A busca do prazer (sexual) e de satisfação do desejo faz parte das necessidades de ambos os sexos, e de certo modo a mulher/personagem feminino parece ter, hoje, uma representação mais ‘atualizada’ de seus anseios. Os pornovídeos talvez mais liberem do que objetifiquem a mulher”
Nuno César Abreu, O Olhar Pornô, Mercado das Letras, 1996.


6 comentários:

  1. Oi Bill, beleza?
    Legal o post. Mas interessante que os dois trechos finais, falando sobre a possibilidade de uma visão alternativa sobre as mulheres no mundo pornô, sejam escritos por homens... Talvez seja interessante confrir o trabalho de mulheres como a Erika Lust (http://www.lustcinema.com/), que além de diretora/produtora de filmes pornô também tem um livro (guia) sobre o assunto.
    Abraço!

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  2. Que bom que gostou do post, Mariana.

    Usei trechos do trabalho do Jorge Leite e do Nuno César pq são minhas atuais leituras, já que ando estudando questões relacionadas à pornografia e o fetiche. Mas me comprometo a escrever sobre a Erika Lust (que ainda desconheço) até a semana que vem.

    Valeu a dica.

    abraço

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  3. Poxa Will nunca soube bem o q pwnsar a respeito, saindo do lugar comum de q o porn usa a mulher como objeto e bla bla bla... "a viryude feminina é a melhor knvenção do homem" é mto bom, se por um tempo o ornô fpi feito só por homens, não é + assim... Mas fica uma questã q tange os tipos de desejo de cada um... A pornografia ainda não é mto consumida pelas mulheres, questão cultural ou nosso desejo vai por outros caminhos?

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  4. Desculpa aí, mas sou obrigado a pegar emprestado esse texto que tá bom pra caramba.

    Com certesa que vou citar a fonte, é que vou fazer uma "pentelhação" no quadradismo de uma turma aí até o dia das mulheres (08 de março), esse vai ser o último texto que vou mandar.

    Qualquer coisa o meu email é gabriel.moraesdossantos@gmail.com

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  5. ela faz filme pornô e ainda diz respeito às mulheres, quanta merda.

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