terça-feira, 29 de maio de 2012

Valesca Popozuda


Crianças. Calma.
Antes de lerem esse meu humilde post (que não passa de uma compilagem barata de informações), cliquem aqui nesse link e leiam o ótimo texto sobre a Valesca publicado lá no Ativismo de Sofá:
http://ativismodesofa.blogspot.com.br/2012/05/dialetica-da-popozuda-linguagem-poder.html#comment-form
Botei até a página com comentários, pq a discussão é boa.


Leram?

Então agora ouçam essa música. É rapidinho, dura só 3 minutos.


Te parece sexista, barato, sem qualidade e machista pra cecete? Pois a mim não. Me parece, ao contrário, a voz de uma mulher que lida muito bem com sua própria sexualidade, que se apropria de um discurso sexual - que tradicionalmente pertence à esfera masculina - e não tem nenhuma vergonha de isso. Ao contrário, tem é orgulho.


Ok, então vamos falar de uma mina que honra sim o rolê. Aliás, honra pra caralho. Ou melhor, honra pra buceta! Essa mina é a Valesca Popozuda. Nascida no Rio, em 1978, Valesca Reis Santos já trabalhou como frentista de posto de gasolina, mas seu gosto pelo funk a levou a ser dançarina do grupo Funk das Popozudas. Em questão de algum tempo, passou a cantar também. Vivia mandando cds com músicas suas pros djs dos bailes funks botarem pra tocar, mas eles sempre tocavam só no fim, quando não tinha mais ninguém. Até que em 2000 conseguiu emplacar o sucesso Vai Danada, pelo selo independente Furacão 2000. A Gaiola das Popozudas é sem dúvida alguma o maior grupo de funk feminino do país.


O sucesso no Rio foi fulminante, e logo Djs gringos passaram a usar suas músicas passaram a usar suas músicas em suas compilações. E daí foi só ascensão. Valesca foi rainha de bateria de escola de samba, posou pra Playboy e vendeu horrores, e já se apresentou em diversos países. Enfim, se liguem aí nesse clipe. É o que eu mais gosto, sem dúvida:


Enfim, eu vivo no meio universitário, onde a galera exalta o Cartola (um cara genial mesmo), mas que apedreja o pagode. Isso tem nome, e é elitismo. Sei que tem muita gente boa que acha que a Valesca só tá reforçando preconceitos e tal, mas eu vejo diferente. Eu vejo uma mina forte, que fala com o linguajar de uma parcela considerável do povo do nosso país, e que encara a própria sexualidade de maneira muito decidida, como poucas conseguem fazer. Deixo pra vcs outra das minhas favoritas, que aliás tem tudo a ver com a Marcha das Vadias:


Acho que é isso por enquanto. O site das minas da Gaiolas é esse: http://www.gaioladaspopozudas.com.br/
E se vc quiser mesmo saber mais sobre o que ela pensa, sem intermediações de detratores e de entusiastas, taqui uma entrevista dela pra Marília Gabriela.


Ah, e pra quem gostou do som dela, tem umas músicas ótimas que ela gravou com o MC Catra. É só procurar lá no youtube e vc encontra.


A seguir, algumas declarações dela:

“Tem gente que diz que mostrar o corpo no palco, como eu faço, é também uma forma de submissão. Mas não estou nem aí. O corpo é meu e faço o que quiser com ele e com a minha sensualidade. O problema é meu. Ninguém tem nada a ver com isso. Isso vale para todo mundo: para a mulher, para o gay, para o bi.”


“Quando comecei a cantar não tinha muita noção de quem iria atingir. Só comecei a entender que minha música poderia ser usada como um discurso quando as próprias mulheres chegavam para mim e diziam que o que eu cantava dava força para elas fazerem o que queriam e que eu falava muitas coisas que elas tinham vontade de falar. Tenho uma música em que falo ‘Agora sou solteira e ninguém vai me segurar’. É isso! Ninguém tem que mandar em ninguém, cuidar da vida de ninguém. Elas dizem: sou isso mesmo! Faço o que quiser e o resto que se f...!”


“Tem gente que diz que no palco é uma coisa e na vida real é outra. Eu sou o que eu canto. Seu eu quiser dar, eu dou e ninguém tem nada a ver com isso. Na minha vida mando eu. Já fui muito criticada. Aliás, quem não é? Não adianta nada ter medo da opinião alheia. Todo mundo fala mal de todo mundo. Até do mais certinho.”


“No começo da ‘Gaiola das Popozudas’, as mulheres que iam aos meus shows me xingavam, me chamavam de piranha e até já chegaram a me tacar latinha de cerveja. Aos poucos elas foram começando a curtir e vendo que o que eu estava cantando poderia ser a história de qualquer uma. Que ninguém tem que ser julgado pelo jeito que exerce sua sexualidade. Hoje 80% do meu público é de mulher. Conquistei aos pouquinhos. Isso foi o mais importante para mim.”


“Sonho com o dia que vão parar de rotular as mulheres de puta ou piranha por causa de sua postura de vida, por causa de um determinado trabalho, como é o meu caso. Ninguém tem que julgar ninguém por causa do seu corpo. Por que a mulher que beija dois é piranha e o cara que beija duas é garanhão?”





Emma Goldman


Emma Goldman nasceu na Lituânia, que fazia parte do Império Russo, em 1869, numa comunidade de judeus ortodoxos. Seu pai era um homem severo, que castigava constantemente seus filhos. E Emma era dotada de um espírito rebelde, o que a deixava encrencada em casa e também na escola, onde era um desafeto dos abusivos professores. Seu pai queria a todo custo que ela casasse, mas sua recusa era taxativa. Ela queria ir pra América, junto com a irmã. Seu pai a proibiu, mas, após uma tentativa de suicídio num lago, conseguiu convencê-lo a deixá-la partir.


Chegou em Manhattan em 1885 e foi trabalhar 10 horas diárias como costureira. Quando seu pedido de aumento foi negado, pediu demissão e foi trabalhar numa loja. Foi lá que conheceu Jacob, com quem se casou, ganhando a cidadania americana. Mas o desastre era que Jacob era impotente, ciumento e desconfiado. Então o divórcio veio após 1 ano. Sua família a rejeitou como uma perdida, e ela foi sozinha, com 5 dólares no bolso, para Nova Iorque.


Foi então que Emma entrou no Café Sachs, e então sua vida nunca mais foi a mesma. Lá ela se encontrou com dois homens que foram fundamentais em sua vida: Johann Most, um anarquista alemão que pregava a propaganda pela ação e que se tornou uma espécie de mentor; e Alexander Berkman, um anarquista tímido e que se tornaria amante e o grande camarada de Emma. Incentivada por Most, começou a fazer fazer discursos em apoio a causas libertárias. Na primeira vez em que subiu no palco:
algo estranho aconteceu. Em um clarão vi - cada desventura dos meus três anos em Rochester: a fábrica Garson, a dura exploração e humilhação, o fracasso de meu casamento, o crime de Chicago. … comecei a falar. Palavras que jamais havia me ouvido pronunciar anteriormente saíram em torrentes, cada vez mais rápidas. Vinham numa intensidade apaixonada… a audiência desapareceu, o próprio salão desapareceu; eu estava consciente apenas das minhas próprias palavras, da minha canção extática. 
 Alexander Berkman, na juventude

Foi então que 1892 chegou e com ela a Greve de Homestead. Quando as negociações entre trabalhadores e a Companhia de Aço Carnegie foram rompidas, os trabalhadores entraram em greve e pararam a empresa. O gerente, Henry Clay Frick, botou os funcinários pra fora da firma e contratou fura greves pra trabalhar. O que se seguiu foi uma batalha campal onde morreram 4 guardas e 9 grevistas. Emma Goldman e Alexander Berkman decidem que o certo a fazer é matar o gerente, Frick, pois imagivam que desta forma iriam inflamar uma inssurreição do operariado contra o capital.




Berkman invadiu o escritório de Frick e lhe deu um tiro, que só feriu seu braço. Foi condenado a 22 anos de prisão. O ato foi repudiado pela grande massa de trabalhadores, que não estavam nem aí pra revolução, mas queriam tão somente a ascensão dentro do sistema capitalista. Emma estava numa terrível fase, execrada por Most e pela massa de trabalhadores e privada da presença de seu companheiro. Mas 1893 chegou, e com ele a maior crise financeira do capitalismo americano até então, onde as massas de desempregados subiu de 800 mil para 3 milhões. Esse era um bom momento para se atacar as estruturas de poder, e foi o que Emma fez, através de suas conferências feitas para um público cada vez maior e mais interessado. Suas palavras eram "Bem então, manifestem-se diante dos palácios dos ricos; exijam emprego. Se eles não lhes derem emprego, exija pão. Se eles lhes negarem ambos, tome o pão". Era chamada pelos jornais de a Joana D´Arc moderna. Foi presa por incitar a insurreição, passando 10 meses em cana. Lá aprendeu o ofício da enfermagem, além de aproveitar pra estudar e ler as obras de escritores ativistas americanos.


Mas claro que tem que dar alguma merda pra estragar tudo, né? Acontece que em 1901, um tal de Leon Czolgosz assistiu algumas dessas conferências, e foi até o presidente William McKinley pra lhe dar dois tiros e uma passagem para o outro mundo. Assumindo que era um anarquista e que foi inspirado por Emma, levou a polícia a prendê-la, mesmo sem nenhuma prova que a ligasse ao assassinado. Emma logo foi solta, e foi a única a defender a posição de Leon, mesmo entre seus amigos anarquistas mais radicais. Isso a tornou uma figura um tanto odiada, já que defender o assassino do presidente não é algo que aumente a popularidade de uma pessoa. Leon Gzolgosz foi morto na cadeira elétrica neste mesmo ano. Emma se recolheu ao anonimato e foi trabalhar como enfermeira, sob o nome de E. G. Smith.


Mas, incapaz de ficar parada, foi voltando aos poucos a palestrar pra grupos de organizações progressistas. Em 1906 lançou sua própria publicação, Mother Earth, dedicada à política e literatura. Neste mesmo ano Berkman saiu da cadeia e foi ajudar a tocar o jornal, enquanto Emma excursionava pelo país com suas palestras. Ela e Berkman já não viviam mais como casal, mas apenas como amigos. Durante a viagem ela conheceu Ben Reitman, um médico vagabundo com quem teve um romance. Em 1914 uniu-se à causa de Margaret Sanger pela luta ao direito das mulheres ao controle de natanidade. Seu apoio à Margaret foi brutal, tanto que acabou presa de novo, durante duas semanas.


Então chegou a primeira guerra e Emma começou uma cruzada anti militar, criando com Berkman a Liga Anti Alistamento. Isso foi algo que os EUA não conseguiram tolerar. O próprio jovem Edgar J. Hoover cuidou para que ela fosse expulsa do país, junto com Berkman e outros tantos anarquistas indesejados.
Afirmamos que se os Estados Unidos entraram na guerra para fazer o mundo seguro para a democracia, eles precisam primeiro assegurar a democracia nos Estados Unidos. De que outra forma o mundo poderia levar os Estados Unidos com seriedade, quando a democracia em casa é diariamente ultrajada, a liberdade de expressão suprimida, e assembleias pacíficas interrompidas por gangsters brutais e autoritários de uniforme; quando a liberdade de imprensa é restringida todas as opiniões independentes são sufocadas? De fato, pobre como somos em democracia, como podemos oferecê-la ao mundo?

Foram pra Rússia e ficaram em choque com a brutalidade e a total ausência de liberdade de expressão dos Bolcheviques a quem eles tanto admiravam. Logo foram embora da Rússia, vivendo entre a França, Inglarerra e Canadá. Ela nunca encontrou, em nenhum país europeu, espaço para suas idéias e militância. Passaria o resto de seus anos relembrando os Estados Unidos, numa casa de veraneio na França, bancada por antigos amigos americanos.


Em 1932 Alexander Berkman se matou, com um tiro no peito.
Emma morreu em 1940, de derrame, enquanto jogava cartas com os amigos, no Canadá.

Enfim, esse espaço do blog é muito limitante. A vida de Emma Goldman é muito fascinante e complexa. Tem um documentário bem bacana sobre a vida dela, que está disponível no youtube (com legendas em espanhol) e vale muito a pena ver.


E é possível ler um de seus texto aqui no site do PCO:
http://www.pco.org.br/biblioteca/mulher/atragediadaemancipacaodamulher.htm

Aconselho também fortemente a leitura de sua página na Wikipedia, que está bem completa.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Emma_Goldman



segunda-feira, 28 de maio de 2012

Pioneiras da Tatuagem

Faz algum tempo que eu escrevi sobre a australiana tatuada, nascida em 1940, a Cindy Ray, aqui no blog. Hoje eu vou falar sobre outras mulheres que também piram nas tattoos, mulheres que marcaram seus corpos com tinta, numa época que tatuagens eram marcas exclusivas de presidiários e marinheiros. Dada a escassez de informações, juntei todas aqui nesse post.

Nora Hildebrandt



Nascida por volta de 1850, Nora é considerada a primeira mulher tatuada a se apresentar nos Estados Unidos. Quem a tatuou foi seu pai, que havia se estabelecido em Nova Iorque em 1846. Começou a se apresentar em museus e feiras de curiosidades em 1882, e nessa época já contava com 365 tatuagens. Forjada para o espetáculo, contava que ela e o pai foram mantidos em cativeiro pelo índio Touro Sentado, e que, mantida amarrada a uma árvore, foi tatuada todos os dias, durante um ano inteiro. Fazia um sucesso danado com a platéia, e em algumas apresentações seu pai lhe fazia novas tattoos no corpo. Excursionou num circo em seus últimos anos. Morreu em 1893.


Irene Woodward



Nascida em 1862, e conhecida como La Belle Irene, começou a se apresentar em Nova Iorque no mesmo ano que Nora. Aliás, a fama de Irene ofuscou totalmente a da Nora. No começo de sua carreira nos palcos, ela contava uma história muito parecida com a de Nora, onde ela havia sido marcada por índios no Texas. Mas depois assumiu que era seu pai que a tatuava, não forçadamente, mas pq quis. Também foi tatuada por diversos outros artistas. Em 1883 se casou, teve um filho e passou 15 anos num circo. Morreu em 1915.


Emma de Burgh




Nascida Emma Kohl, é considerada uma das obras primas de Samuel O´Reilly (o inventor da máquina de tatuar elétrica). Suas tattoos abarcavam temas patrióticos e religiosos. No fim do séc. XIX, junto com seu marido Frank, viajou pela Europa, se apresentado com muito sucesso. Isso é tudo o que pude encontrar de informações sobre ela.


Lady Viola








Nascida Ethel Martin, em 1898, no estado do Kentucky, foi pressionada pelo pai a cursar enfermagem. Após se formar, Ethel começou a se tatuar com Frank Graf, que fechou seu corpo em 1920. Ela começou a se apresentar em circos, de costa a costa do país, ficando conhecida como a mulher tatuada mais bonita do mundo. Ela tinha tatuagens de flores, onde no meio haviam vários retratos de pessoas famosas. Um trabalho notável e minucioso. Ela costumada excursionar no verão, e era também tatuadora, praticando o ofício durante o inverno. Montou, com o marido, seu próprio estúdio de tatuagem em 1969, e permaneceu se apresentando em circos e museus até os 73 anos. Morreu em 1977, cercada por 9 filhos e muitos netos.


Artoria Gibbons






Artoria (nascida Anna Mae Burlingston) nasceu numa família muito pobre, em Wisconsin, em 1893. Aos 14 anos decidiu sair de casa, e foi trabalhar como empregada doméstica em Washington. Lá, numa de suas visitas ao circo encontrou Red Gibbons, um tatuador que lhe fez uma proposta. Se ela o deixasse tatuar, poderia viajar pelo mundo com o circo, além de ser paga por isso. Foi o que ela fez, casando-se com Red pouco tempo depois. Começou a excursionar em 1920, e quando não estava viajando vivia na Califórnia. Era uma mulher muito religiosa, membro da igreja Episcopal. A partir dos anos 70 começou a se apresentar num tipo de circo cristão, onde era anunciada como uma "monstruosidade feita pelo homem". Se aposentou em 1981 e morreu em 1985.


May Vandermark




Nascida na Pensilvânia, foi pra Nova Iorque em 1924 para trabalhar como estenógrafa. Reza a lenda que, enquanto nadava em Coney Island, viu uma borboleta tatuada num ombro de alguém e pensou: eu preciso de uma dessas! Conheceu a tatuada Lotta Pictoria, que a convenceu a se tatuar também, o que ela fez com o lendário Charles Wagner. Se apresentou em shows em fins de 1920.


Lotta Pictoria




Nascida Victoria James, Lotta foi tatuada por Charles Wagner nos anos 1920, e foi amiga de May Vandermark. Foi o máximo de informações que eu encontrei sobre ela.


Betty Broadbent





Nascida na Filadélfia, em 1909, Lilian Sue Brown trabalhou como babá durante a adolescência e casou-se com um cowboy aos 19 anos, mas o casamento não durou. Passava o tempo todo na praia, e foi lá que conheceu um tatuador, o que a levou atingir a marca de 350 tatuagens. Começou a se apresentar em um circo em 1927, e permaneceu no mundo dos espetáculos por 40 anos. Foi a primeira pessoa incluída no Hall da Fama das Tatuagens, e morreu em 1983, enquanto dormia.


Elizabeth Weinzirl


Nascida em 1904, começou a se tatuar nos anos de 1940, com o lendário Bert Grimm. Não achei muita informação sobre ela, mas é uma das raras mulheres dos primórdios da tattoo a terem sido filmadas. Taí o vídeo:


Ela morreu em 1993.


Krystyne Kolorful



Nascida em 1952, no norte do Canadá, é muito difícil encontrar informações sobre essa dançarina exótica, embora ela tenha entrado pro Guinness como a mulher mais tatuada do mundo, com 95% do corpo coberto (hoje ela divide essa marca com Julia Gnuse). Ela entrou pela primeira vez no Guinness em 1988, mas já faz parte de uma geração que vive menos preconceito com as tattoos.


Julia Gnuse



E fechando essa honrosa galeria, a americana Julia Gnuse, nascida em 1959. Ela tinha um problema de pele, que causava bolhas em sua pele, que estouravam e criavam cicatrizes. Foi por isso que ela começou a fazer tatuagens, e hoje tá aí com 95% da pele tatuada.