quinta-feira, 14 de junho de 2012

Camille Paglia


Nascida em Nova Iorque, em 1947, Camille Paglia é uma intelectual de contradições apenas aparentes: uma ateísta que respeita a religião e uma classicista que defende tanto a arte elitista quanto a popular com uma visão de que o ser humano tem uma natureza irresistivelmente dionisíaca, especialmente no aspecto mais selvagem e obscuro da sexualidade humana.




A intelectual apresenta uma gama variada de assuntos sobre o qual escreve: religião comparada, história da arte e o cânon literário, além de uma grande ênfase no ensino da história. Paglia tornou-se célebre para o público mundial em 1990 ao publicar o primeiro livro Sexual Personae: Art and Decadence from Nefertiti to Emily Dickinson. O sucesso com este livro possibilitou a autoria de outros títulos sobre cultura popular e feminismo. Exibindo enorme erudição, gerou muita polêmica ao desafiar o que ela própria denominou de "elite liberal", incluindo acadêmicos, grupos feministas tais como as National Organization for Women (NOW), and AIDS activists ACT UP.
É Ph.D em língua inglesa pela Universidade de Yale. É considerada uma das principais críticas do feminismo, especialmente o "puritano e stalinista". É professora no Philadelphia College of the Performing Arts.

A seguir, techos de uma entrevista sua para a revista cult. Pra ler na íntegra, só clicar aqui.
CULT – Você já criticou o casamento gay. Por quê?Camille – Por 20 anos, tenho clamado pela substituição de todo casamento, homossexual ou heterossexual, pela união civil. O Estado, que governa os direitos de propriedade, deve ser estritamente separado da religião e não deve jamais sancionar sacramentos religiosos. Pessoas que querem a bênção de uma igreja devem se sentir livres para ter uma segunda cerimônia na igreja que escolherem. Eu acredito que os ativistas gays dos Estados Unidos cometeram um sério erro estratégico ao reivindicar o casamento, porque a palavra “casamento” é muito associada à tradição religiosa e gera uma revolta entre os conservadores. Em vez disso, os ativistas deveriam se concentrar nos benefícios específicos injustamente negados às uniões gays. Por exemplo, nos Estados Unidos, se um gay morre, seu parceiro não recebe os benefícios do seguro social, que, no caso das uniões heterossexuais, vai automaticamente para o parceiro. Isso é uma afronta! Mas esse ponto tem sido deixado de lado pelos ativistas gays por conta do seu entusiasmo pela quimera reacionária do “casamento”. Uma visão de esquerda autêntica (como nos anos 1960) iria desafiar todo o conceito de casamento.
CULT – Você terminou recentemente um relacionamento de 15 anos com sua parceira Alison Maddex. Vocês foram casadas formalmente?Camille – Na realidade, nós terminamos há um ano e meio, mas a notícia surgiu na mídia somente agora. Não, nós não fomos casadas. Um dos pontos altos do nosso relacionamento foi a repercussão na mídia de nossa visita ao Brasil em 1996. Nós amamos os brasileiros. Na verdade, o mais importante relacionamento da Alison, antes do nosso, foi com uma brasileira.
CULT – Como você avalia a possibilidade de um relacionamento amoroso de longa duração entre duas mulheres?Camille – Para ser franca, sou pessimista quanto a eles do ponto de vista erótico. As lésbicas formam laços de lealdade muito profundos – compromissos vitalícios que têm sido observados desde o famoso caso das “senhoritas de Llangollen”, que aconteceu há dois séculos no País de Gales. Mas sou cética sobre quanto “fervor” sexual ainda pode haver entre duas mulheres depois de dez ou 20 anos. Existem, entre escritores gays, casos muito famosos de casais de homens que ficaram juntos por toda a vida — W.H. Auden, Allen Ginsberg, Gore Vidal. Mas eles jamais exigiram de seus parceiros a exclusividade sexual. Ambos os amantes tinham divertidas aventuras alhures com jovens atraentes. Isso não parece possível com as lésbicas. A aventura externa acaba representando uma traição do laço emocional. Eu mesma fui, de modo entediante, monogâmica em minha conduta. Olhando em retrospecto (dado o número de assédios que recebi tanto de homens quanto de mulheres nos últimos 20 anos), acho que foi um erro!
CULT – Você e Alison têm um filho. O que pensa sobre a adoção e a criação de crianças por casais gays?Camille – Meu filho, que adotei legalmente depois que nasceu, sete anos atrás, é filho biológico de Alison e está sendo criado por nós duas de modo amigável. Usamos uma clínica de fertilidade da Filadélfia e um banco de esperma da Califórnia para escolher um doador anônimo. Tivemos a sorte de a adoção gay ser permitida no estado da Pensilvânia – o que não ocorre em algumas partes dos Estados Unidos. Não gosto da ideia de “duas mamães” ou de “dois papais” para os filhos de casais gays. Acho que isso pesa muito sobre a criança na forma de aborrecimentos desnecessários durante a adolescência. Meu filho tem apenas uma mãe – Alison – e é por isso que ele tem o sobrenome dela. Não gosto dos nomes longos nem das combinações hifenizadas construídas por muitos pais gays. Essas são estratégias desenvolvidas para proteger o amor-próprio de adultos, e não o bem da criança. De forma geral, a criação de uma criança por um casal gay é um enorme experimento social tornado possível por um clima liberal na cultura ocidental. Tenho muita esperança de que os resultados gerais serão positivos – mas a essa altura ninguém pode ter certeza.
Há também uma entrevista sua para a revista época, que pode ser conferida aqui. 
VI FLIPORTO, onde rolou um debate com Camille. Infelizmente não há legendas para o vídeo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário