Elke Giorgievna Grunnupp nasceu em 1945, na Rússia, em Leningrado. Seu pai russo e sua mãe alemã eram perseguidos pelo regime comunista de Stalin, e emigraram para o Brasil em 1951. Foram morar em Itabira do Mato Dentro - MG, a cidade de Carlos Drummond de Andrade. Elke chegou em Minas falando Russo e Alemão. Após alguns anos, mudaram-se para Jaguaraçu.
Elke é professora, tradutora e intérprete de línguas estrangeiras, incluindo o latim. Foi bancária, secretária trilíngue e bibliotecária. Foi também a mais jovem professora de francês da Aliança Francesa e de inglês na União Cultural Brasil – Estados Unidos. Fala nove idiomas: O russo, o português, o alemão, o italiano, o espanhol, o francês, o inglês, o grego e latim.
Começou a carreira de modelo e manequim aos 24 anos com Guilherme Guimarães, tendo trabalhado para grandes estilistas, considerada como inovadora nas passarelas. E foi nos desfiles que conheceu a estilista Zuzu Angel e ficaram muito amigas.
“... aos poucos fui me impondo, mesmo como manequim. No início fazia um pouco o jogo, porque também sei ser chique: fazer um cabelo convencional, uma maquiagem leve, etc. Mas aquilo para mim era fantasiar-me. Eu não sou aquilo! E o legal é que os próprios costureiros começaram a entrar no meu barato, entender o meu estilo e proposta estética e fazer roupas especiais para eu desfilar."
Em 1972, Elke estava no Aeroporto Santos Dumont quando viu um cartaz de de procurados políticos pela ditadura militar. No cartaz estava a foto de Stuart Angel, filho de Zuzu. Elke retirou o cartaz da parede e o rasgou. Esse simples ato de revolta lhe causou a prisão. Anexado ao processo estava o cartaz rasgado, e ela foi acusada de prejudicar a localização do rapaz foragido. Um puta cinismo dos militares, como se não soubessem que Stuart morrera torturado barbaramente nas dependências da Base Aérea do Galeão em 14 de junho de 1971. Arrastado por um carro com a boca pendurada ao cano de descarga. Este ato causou sua prisão por seis dias e a perda da cidadania brasileira. Só foi libertada por ajuda do advogado de sua amiga Zuzu. Por anos foi uma apátrida, até que requisitou a cidadania alemã, a única que tem até hoje.
Também em 1972 foi convidada para ir à televisão, no programa do Chacrinha:
“... um dia tocou o telefone com alguém me convidando para ir no programa do Chacrinha. Eu não conhecia porque não via televisão, mas aceitei. Então perguntei a um amigo sobre como era o tal programa e ele me disse que era um programa de auditório que tinha um apresentador que tocava uma buzina o tempo todo. Achei legal, comprei uma buzina e entrei lá buzinando; o Painho se encantou comigo e eu com ele. Foi assim que começou!”
A partir daí sua participação na tv foi constante. Foi jurada no programa do Silvio Santos, teve talk show no sbt, teve um quadro esotérico no programa do Amaury Jr, e fez um sucesso danado na minissérie Memórias de um Gigolô. Seu desempenho como a dona de um bordel fez tanto sucesso que ela foi convidada a ser madrinha da Associação das Prostitutas do Rio de Janeiro.
Entrevista de Elke no programa do Otávio Mesquita.
Em cinema, Elke participou de inúmeros filmes, desde Pixote, do Babenco, até filmes da Xuxa. Eventualmente está em cartaz com alguma peça.
Elke, no filme Pixote, de 1982.
“Perguntam-me como criei este estilo, este visual que me caracteriza. Digo que sempre busquei compor este jeito, claro que não era assim como agora, pois hoje a coisa é mais abrangente, com o tempo venho me descobrindo muito mais por dentro e colocando o que descubro para fora. Costumo dizer que sempre fui assim, só que com o tempo estou piorando! Na realidade, sempre fui um trem meio diferente, sabe? Ainda adolescente resolvi rasgar a roupa, desgrenhei o cabelo, exagerei na maquiagem e sai na rua... Levei até cuspida na cara. Mas foi bom porque entendi aquela situação como se estivessem colocando-me em teste. Talvez, se meu estilo não fosse verdadeiramente minha realidade interior, eu teria voltado atrás. Mas sabia que nunca iria recuar. Eu nunca quis agredir ninguém! O que eu quero é brincar, me mostrar, me comunicar”.
A seguir, o belo documentário de Júlia Rezende sobre Elke:
Pra mais informações, é só acessar o site oficial dela.
Parabéns, William! Excelente post! Vou dar uma conferida nos vídeos depois, sempre achei que Elke era um homem travestido, incrível como a TV em geral nos aliena. Um abraço!
ResponderExcluirEu,Ivone Alves, sou pisciana como Elke e acho ela um exemplo de força de coragem, decidida iluminada a sua força é um exemplo para nós...
ResponderExcluirÉ incrível como as pessoas, principalmente mulheres, sempre tiveram uma capacidade grande de auto-destruição. A Elke antes era muito melhor do que esse ser andrógino que vemos há 30 anos.
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