segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Fernanda Young [ou, a propósito do meu centésimo post]


Queridas amigas.
Queridos amigos.

Estou muito feliz hoje, pois este post é especial pra mim. Ele de certa forma completa um ciclo - simbólico, claro - de persistência e confiança. Esse é meu post de número 100, e estou satisfeito com a minha persistência na continuidade deste projeto, e com a confiança de vocês, que entram aqui, me lêem, comentam e trocam figurinhas comigo. Sério galera, muito obrigado.

A escolha da Fernanda como resenhada de hoje não é aleatória. Me explico. No dia 23 de novembro de 2009, no meu antigo blog Memento Mori, eu comentei o ensaio da Fernanda Young na playboy, elogiando a atitude e talz, mas criticando uma certa intelectualização - e justificação - do ato de ficar pelada. Naquele texto, disse que não havia diferença entre ela e uma mulher fruta ou ex-bbb, já que todas posam peladas ou por dinheiro ou por vaidade. Foi então que a Maíra - minha namorada na época, hoje -ex - comentou o post, me criticando. Disse que a Fernanda é superior sim a todas as ex bbb´s e mulheres frutas da vida. Pq essas minas não seriam nada sem a playboy, elas nunca teriam destaque se não tivessem mostrado a bucetinha. Já a Young não precisava disso. Ela já era uma escritora de sucesso, então fez pq quis. E daí ela me perguntava se eu achava que rolava todo dia uma mulher tirar a roupa e a galera continuar respeitando a inteligência dela. E o comentário terminava com "sabe nada de mulé!".

Ok. Eu confesso. Sou um sujeitinho bem mesquinho, e muito rancoroso. Na época não liguei muito pro comentário, mas com o tempo aquilo foi crescendo. Minha dúvida, em algum tempo, ganhou forma de certeza: "deus, eu não manjo nada de mulher!". E pior. Passei a me ver como um daqueles caras que posam de libertários e tal, mas na real são uns preconceituosos da porra. Foi aí que nasceu a necessidade de criar esse blog.

Meu primeiro post foi o da Carla Camurati, no dia 11 de maio de 2011. Foram 94 perfis individuais, 4 perfis de coletivos e 1 só de fotos (da Hilda Hilst). Talvez hoje eu ainda continue não sabendo muita coisa sobre as mulheres, mas eu sei que aprendi um bocado. E meu interesse tá ativo, então acho que esse é o caminho certo.

Enfim, vou falar sobre a Fernanda, ok?


Fernanda Maria Young de Carvalho Machado, nascida em Niterói, em 1970. Sofria de depressão na infância, tentou até cortar os pulsos. Largou a escola ao completar o fundamental - o médio foi feito num supletivo de seis meses. Cursou letras, depois jornalismo, depois rádio e comunicação, mas não concluiu nenhum desses cursos. Aos 19 anos fez uma participação como atriz numa minissérie da globo chamada Iaiá Garcia, baseado no Machado de Assis.


Aos 21 participou também como atriz da novela O Dono do Mundo, da globo. Daí ela parou com atuação e foi escrever com o marido, o roteirista Alexandre Machado. Em 1995 integravam o time de roteiristas de A Comédia da Vida Privada. E em 96 Fernanda publicou seu primeiro romance, Vergonha dos Pés. O segundo veio no ano seguinte, A Sombra Das Vossas Asas, e no ano seguinte, Cartas Para Alguém bem Perto. E em 2000, A Pessoa dos Livros. Neste ano também escreveu, com o marido, o roteiro do filme Bossa Nova, e teve, com o marido, suas primeiras filhas, as gêmeas Cecília e Estela.


As pessoas precisam passar por crises, por um processo depressivo para ter um upgrade. Minha última crise depressiva veio em parte desse contato com a maternidade, e não só o pós-parto. Acho estranho gente que não sente o conflito do pós-parto, é um raio que cai na sua cabeça. Vem uma consciência de perigos e morte muito grande. Período de culpa e medo. Drama hormonal devastador. Ser mãe trouxe uma necessidade de conectar vários valores, comprometimento com o carma de criar alguém. Na verdade, a maternidade é a coisa mais importante para mim. O resto pode doer aqui ou ali, mas a vida é bela através dos filhos. Tenho as gêmeas, que vão fazer 10 anos, a Catarina, 1 ano e três (quatro) meses e o John, 7 (8) meses. Fui mãe tardiamente, com 30 anos. Nunca foi um projeto, nem pensei que fosse acontecer. Talvez a Catarina, porque sempre soube que iria adotar.


De 2001 a 2003, escreveram o seriado mais engraçado de todos os tempos, Os Normais. Talvez seja seu trabalho de maior sucesso, até hoje. Lançou ainda o livro O Efeito Urano, em 2001.


Então em 2002 foi convidada pra apresentar o Saia Justa na GNT, junto com Rita Lee, Mônica Waldvogel e Marisa Orth, parceria que duraria até o ano seguinte. Em 2006 ela ganha um programa de entrevistas próprio, o Irritando Fernanda Young, que dura até 2010, data em que já havia lançado mais 5 livros.


Se eu sou uma autora de língua portuguesa, indiferentemente se você gosta ou não dos livros, execrar, depois de tantos anos e de tantas obras, é um exercício total de falta de autoestima. É assim que a gente perde o sentido de indagação e referências de língua. Se você viajar o Brasil inteiro para as palestras e leituras como as que eu faço, vai perceber que o Brasil é enorme e que fica meia dúzia de picuinhentos rancorosos azucrinando. Os leitores não; eles são incríveis. São pessoas que leram um livro meu aos 15 anos e agora têm 27, escrevem, se tornaram grandes leitores, muito inteligentes e livres.

Em 2007 Fernanda sofreu um aborto, e logo adotou um garoto, John, seu segundo filho adotivo. Hoje ela ainda trabalha em programas no GNT, em seriados da globo e escrevendo. Com 41 anos, um tantão de tatuagens, uma persona nervosa (mas no fundo é uma tímida-carinhosa) e muita atitude e talento, Fernanda Young continua honrando o rolê, mostrando pras gatinhas que é melhor ser respeitada primeiro pela inteligência, pra depois ser respeitada pela bucetinha, peitinhos e afins.

Um comentário:

  1. Uau! Mas já? Parabéns Will, ótimo post, como sempre. A playboy da F. Young foi a única que tive vontade de ver (ver mesmo, porque pra ler os textos ainda vou demorar mais um pouco, hehe). Fez pensar. Beijo.

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