O post de hoje é dedicado à querida Aline Zouvi. Sem ela eu demoraria muito mais a ler o quadrinho feito por Catel Muller e José-Louis Bocquet sobre a Kiki - lançado no Brasil pela Ed. Record. Enfim, recomendo fortemente a leitura. Kiki talvez seja a primeira mulher livre do século XX. Viveu como quis, amou quem quis, bebeu o quando quis. E excessivamente. Parcimônia nunca foi seu forte.
Kiki nasce Alice Ernestine Prin, na frança, em 1901. Não se sabe exatamente quem foi seu pai, e sua mãe partiu para Paris para ser linotipista. Foi criada pela avó e viveu uma infância miserável, ainda que se divertisse com os primos, também criados pela avó. Seu padrinho era contrabandista de álcool e com ele aprendeu a beber e a cantar em bares.
Aos doze anos ela vai pra capital encontrar a mãe, mas a relação entre as duas não é das melhores. Aos dezesseis Kiki começa a trabalhar numa padaria, mas acaba brigando com a dona do rolê. É então que ela posa pela primeira vez, para um escultor. Sua mãe descobre, fica puta e expulsa a filha de casa. Vivendo nas ruas, pulando de casa em casa, conhece a bohemia de Montparnasse. Passa a viver com o pintor Soutine, e conhece Modigliani e Urtrillo.
Kiki era dona de uma alegria que contagiava a todos. Quando chegava num lugar, significava que a festa havia chegado. Sua fama de mulher livre e alegre se espalhava, o que fazia dela a queridinha dos artistas e a execrada como puta pela sociedade. Aos 17 ela passa a viver com o pintor Mendjisky, sendo modelo de inúmeras obras suas. No mesmo ano, torna-se a modelo favorita de Kisling. Três anos depois conhece o pintor japonês Foujita, para quem posa, iniciando assim uma amizade que durará a vida inteira.
Ali no fundo vemos Foujita, vestido de mulher, ao lado de uma sorridente Kiki.
O famoso quadro de Fujita, usando Kiki como modelo, 'Nu deitado com tecido de Jouy', de 1922.
Em 1921 Kiki conhece o pintor e fotógrafo americano Man Ray. Os dois se apaixonam e vivem juntos por oito anos. Arrisco dezer que Man tenha sido o homem mais - ou um dos mais - importante da vida de Kiki. Sei lá, talvez eu só simpatize com ele. Mas o que importa é que foi graças a Man e sua câmera fotográfica que a imagem de Kiki ficou imortalizada para nós. Nos anos que passaram juntos, conviveram com Picasso, Cocteau, Breton, Matisse, Miró, Bunuel e outros. A seguir, algumas fotos de Man.
Em 1922 ela conhece Henri-Pierre Roche, um amante da arte que estimula Kiki a pintar. Em julho de 1923 Man Ray projeta seu curta O Retorno à Razão, onde aparece o peito de Kiki, num evento que marcou o ápice da treta entre dadaístas e surrealistas.
No final desse ano ela tem uma briga com Man e viaja pros States pra tentar ser atriz em Hollywood. O negócio fracasso e ela logo volta. Começa a dançar e cantar no recém inaugurado Joquei, uma night club de Montparnasse que reunia a nata dos artistas.
O tempo passa e as coisas não mudam. Muita bebida, muitas músicas obscenas e muitos amores. No início dos anos 30 Kiki começa a expor suas pinturas, e vende uma porção delas. É nesta década que o gosto pela cocaína surge, graças a Broca, um de seus amantes. Em 1937 ela abre seu próprio cabaré, onde também se apresenta junto com seu novo homem, o tocador de acordeão Dédé Laroque. Em 39, lança seu primeiro disco - de um total de três. Seus últimos anos são marcados por shows em cabarés e pelo vício em drogas. A decadência é lenta, mas fatal. Inchada e sem voz, Kiki morre em Paris, com 52 anos.
Balé Mecânico, de Fernand Léger, 1924.
Nu sentado, de Moise Kisling
Kiki de vestido vermelho, de Kisling.
Kiki de Montparnasse, de Pablo Gargallo, 1928.
Evidente que esta minha tentativa de resumo da vida de uma mulher tão extraordinária resulta em nada mais que pífia. Mas espero que tenha despertado a vontade em vocês de conhecer um pouco mais sobre ela. A seguir, alguns dos trabalhos da própria Kiki.
Ficou lindo o post, Will! (:
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