Pauline Kael nasceu em 1919 e morreu em 2001. Foi uma jornalista que escreveu críticas de cinema na revista The New Yorker entre os anos de 1968 a 1991. Conheci seu trabalho através de seu livro, lançado por aqui pela Cia das Letras, 1001 Noites no Cinema, em 1994. Minha primeira impressão não foi positiva, confesso. A imagem que me vinha à mente era a de uma crítica ranzinza, uma mulher que odeia filmes e que dedica sua vida a falar mal deles. Evidentemente eu estava errado. E esse post talvez seja meu primeiro passo para uma melhor compreensão do universo de Pauline Kael.
Importante ressaltar que Pauline foi a crítica de cinema mais importante e influente dos Estados Unidos. É uma espécie de norte pra praticamente todos os que estão no ramo, hoje em dia. Formada em Filosofia e Literatura na Berkeley. Depois de formada trabalhou em alguns trabalhos típicos de recém formados, tais como cozinheira, costureira e redatora de publicidade. E então o editor de uma revista a viu discutir sobre cinema em um café e a convidou pra escrever uma crítica. Foi então que começou a publicar críticas regularmente em algumas revistas.
Pauline buscava nestas críticas um tom afastado da pompa do discurso universitário. Buscava informalidade e a falta de pretensão. E talvez esse seja seu maior mérito: a clareza. Lição que infelizmente muitos críticos hoje em dia não tenham se dado o trabalho de aprender. Afinal, o que mais se vê são aquelas críticas incompreensíveis, impossíveis de serem compreendidas em uma leitura só. Em suma, desnecessários.
Entre 1955 e 60 gerenciou dois cinemas em Berkeley, programando e resenhando todos os filmes exibidos. Como programadora, moldou o gosto de um grande público de acordo com o seu. E foi publicando críticas aqui e alí que alcançou o cobiçado posto na sofisticada New Yorker. Seu estilo direto e claro incomodou aqueles que esperavam um vocabulário rebuscado, mais condizente com a publicação. Mas aos poucos seu estilo se impôs, e seus textos passaram a ser paradigmáticos. Pauline dizia que suas críticas eram boas porque os filmes eram bons.
Aqui vai um trecho em que fala do filme Sindicato de Ladrões:
“A tentativa de criar um herói para a audiência de massa é um desafio e uma grande armadilha. Sindicato de Ladrões enfrenta o desafio, mas cai na armadilha. A criação de um simples herói é um problema que não ocorre com freqüência em filmes europeus, nos quais o esforço é despendido em criar personagens que nos toquem mais por sua humanidade – sua fraqueza, sua sabedoria, sua complexidade – do que por suas dimensões heróicas. Nossos filmes [norte-americanos], entretanto, negam a fraqueza humana e as complexidades sobre as quais os europeus tanto insistem. É como se nos recusássemos a aceitar a condição humana: não queremos ver-nos em trapaceiros, em seres traídos e covardes. Queremos heróis, e Hollywood os produz com um estalar de dedos.”
No início dos anos 1980 foi diagnosticada com a doença de Parkinson. Com a piora da doença, se tornou cada vez mais desiludida com o cinema. As críticas se tornaram cada vez mais amargas, até que em 1991 resolveu se aposentar. Segundo suas palavras, "o empobrecimento estético e mental [do cinema] não tem fim". Dedicou sua última década de vida aos romances, à ópera, ao jazz, ao rap, e ao rock. Morreu em 1991, aos 82 anos.
Enfim, seria ótimo que se estudasse Kael nas universidades. Quem sabe as críticas de cinema hoje em dia se tornassem menos enigmáticas - e menos chatas.
“Quando somos jovens, são boas as possibilidades de que encontremos alguma coisa de que gostar em quase qualquer filme. Mas quando nos tornamos mais experientes, as possibilidades mudam"
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