sexta-feira, 25 de maio de 2012

Mayra Dias Gomes



Conheci a Mayra - não pessoalmente, claro, mas como escritora - na época do lançamento do seu primeiro livro, quando ela estava com 19 (e eu com 21). Lembro que aquela garota locona, cheia de tatuagens, a típica rockeira problema que a gente sempre tromba nos bares da vida chamou muito minha atenção. O livro era o Fugalaça, e foi escrito por ela aos 17 anos, durante um período de depressão. A obra fez um relativo sucesso no meio underground, o que chamou a atenção pra essa carioca, filha do dramaturgo Dias Gomes, nascida no Rio de Janeiro em 1987. A seguir, um trechinho pra vcs e uma interessante entrevista da época do lançamento.
"Comprei cocaína pela primeira vez no mesmo bar em que havia terminado com Fábio. Era tão fácil, todos os vendedores de bala e chiclete que permaneciam a noite inteira na frente do bar tinham papelotes de trinta e vinte reais nos bolsos. Era só olhar para eles e dar uma fungada que eles entendiam o que eu queria. Quando usei pela primeira vez, não senti efeito nenhum e comecei a criar um pensamento de que devia ser imune àquela droga. Mas eu não queria desistir da sensação, então continuei comprando, até conseguir sentir o pico de segurança e energia que a coca devia dar. O pico que ele sentia.­Então eu enchia minhas narinas não de pó, mas sim dele. Enchia minhas narinas das sensações que ele sentia. Era delicioso, eu passava a usar coroas mesmo sem nenhuma na minha cabeça. Sentia-me como Napoleão Bonaparte. A onda era diferente de todas as outras, era realista e nada alucinógena e parecia compatível com qualquer situação. Eu andava pelas ruas de Ipanema por vinte ou trinta minutos com o ego nas estrelas, a adrenalina nas veias, com ele dentro de mim e depois tudo ficava bem. O nome dele era Cocaína e a cocaína se chamava Riki. Mas eu não iria contar para ele, que era só meu amigo. Ele provavelmente me recriminaria."

Foi chamada para ser repórter musical da Folha de São Paulo, e mais tarde colunista do Folhateen. Seu segundo livro, Mil e Uma Noites de Silêncio, saiu dois anos depois. Colaborou com o Notícias MTV, na seção de literatura, e posou peladinha na Sexy em 2010. Taqui mais uma entrevista bacana aqui com ela:



Em 2009 foi pra Hollywood pra fazer cobertura jornalística sobre celebridades. Casou-se com o ator e cantor Coyote Shivers e continua trabalhando até hoje com jornalismo, colaborando com diversos jornais e revistas.


Pra terminar, mais um trechinho do Fugalaça.
"Seus lábios finos se aproximaram e me arrancaram um beijo indesejado. Olhei para ele como se não estivesse lá, através de seu corpo, procurando bloquear sua imagem, procurando expulsar sua presença com telepatia. Eu não conseguia dizer nada, no fundo eu achava que devia alguma coisa para ele. Ele me pegou com vigor pelos braços e me jogou na cama. Eu tentei me levantar mas ele me empurrou novamente, colocando a mão nos meus seios. Olhei pro teto e vi as estrelinhas que brilham no escuro grudadas. Eu costumava fazer pedidos a elas com espírito de criança intocada que não conhece o mundo. Ele estava em cima mim e eu queria que ele saísse. Tentei empurrá-lo, mas não consegui, não tinha forças e ele segurava meus braços com uma única mão. Parei de reagir e olhei nos seus olhos.— Pára, eu não quero, pára! — eu disse deter­mi­na­da­men­te.— Shhh! — Ele levou o dedo indicador aos lábios. — Não vai doer, relaxa.— Não, por favor, eu não quero, tô falando sério!Naquele momento eu faria qualquer coisa, menos relaxar. Via seus poros oleosos de perto demais e suas espinhas pareciam ter se multiplicado. Pareciam estar prontas para explodir e jogar pus nos meus olhos. Tentava afastá-lo do meu corpo, mas não conseguia. Mexia-me de um lado pro outro neuroticamente pedindo para ele parar. Gritando que o odia­va. Mexia-me de maneira tão brusca que acabei batendo com a cabeça na mesinha-de-cabeceira. Machucou e eu fiquei mais tonta. Olhei para frente e em cima da escrivaninha vi uma foto embaçada de quando eu era criança. Estava sorrindo e abraçava minha irmã. Sentia nojo de mim mesma deitada em sua cama, em seu cobertor de flores rosa, no seu quarto de paredes mais rosa ainda. Ele ainda era capaz de segurar minhas duas mãos, como se estivessem amarradas, com uma só mão. Com a outra ele tirou do bolso uma camisinha, abriu a bermuda, colocou o pau para fora, rasgou o pacote com o dente, colocou a proteção e riu de maneira debochada. Fechei os olhos e o deixei me conduzir freneticamente durante vários minutos de dor insuportável. Quando ele gozou e parou de soltar seu gemido repugnante, se jogou em cima de mim. Então finalmente consegui empurrá-lo. Ele ficou deitado ao meu lado com a respiração ofegante.Ele levantou, vestiu sua bermuda azul e olhou para minha figura estilhaçada com um olhar zombeteiro. Deu uma risadinha sarcástica, deixou a camisinha cheia de porra largada em cima da mesa e saiu do quarto arranhando o tênis no chão sem dizer mais nada."

Ah, o site oficial dela:
http://www.mayradiasgomes.com/pt/


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