domingo, 28 de julho de 2013

Papisa Joana

Representação medieval da Papisa Joana, como João VII, gravura constante do livro Crônica de Nuremberg, de 1493 de Hartmann Schedel

Papisa Joana teria sido a única mulher a governar a Igreja durante dois ou três anos. Uns afirmam que a história é uma lenda. Mas é muito interessante saber o que se diz desta mulher que teria ocupado o posto mais alto de uma religião que sempre relegou as mulheres posições inferiores aos homens.

A história aparece pela primeira vez em documentos do início do século XIII, situando os acontecimentos em 1099. Outro cronista, também do século XIII, data o papado de Joana de até três séculos e meio antes, depois da morte do Papa Leão IV, coincidindo com uma época de crise e confusão na diocese de Roma. Joana teria ocupado o cargo durante dois ou três anos, entre o Papa Leão IV e o Papa Bento III (anos de 850 e 858).

Uma ilustração datada de 1560 (aproximadamente) da Papisa Joana com a Tiara Papal, absolvendo um monge em confissão. Do acervo da Biblioteca Nacional da França.

A história possui várias versões. Segundo alguns relatos, Joana teria sido uma jovem oriental, nascida com o possível nome de Giliberta, talvez de Constantinopla, que se fez passar por homem para escapar à proibição de estudar imposta às mulheres. Extremamente culta, possuía formação em filosofia e teologia. Ao chegar a Roma, apresentou-se como monge e surpreendeu os doutores da Igreja com sua sabedoria. Teria chegado ao papado após a morte do Papa Leão IV, com o nome de João VII. A mesma lenda conta que Joana se tornou amante de um oficial da Guarda Suíça e ficou grávida.
Trechos do livro "De Mulieribus Claris""Mulheres famosas", de 1362, escrito por Giovanni Boccaccio (1313–1375)

Outra versão - a de Martinho de Opava - afirma que Joana teria nascido na cidade de Mogúncia, na Alemanha, filha de um casal inglês aí residente à época. Na idade adulta, conheceu um monge, por quem se apaixonou. Foram ambos para a Grécia, onde passaram três anos, após o que se mudaram para Roma. Para evitar o escândalo que a relação poderia causar, Joana decidiu vestir roupas masculinas, passando assim por monge, com o nome de Johannes Angelicus, e teria então ingressado no mosteiro de São Martinho.
Conseguiu ser nomeada cardeal, ficando conhecida como João, o Inglês. Segundo as fontes, João, em virtude de sua notável inteligência, foi eleito Papa por unanimidade após a morte de Leão IV (ocorrida a 17 de julho de 855).
Apesar de ter sido fácil ocultar sua gravidez, devido às vestes folgadas dos Papas, acabou por ser acometida pelas dores do parto em meio a uma procissão numa rua estreita, entre o Coliseu de Roma e a Igreja de São Clemente, e deu à luz perante a multidão.

As versões divergem também sobre este ponto, mas todas coincidem em que a multidão reagiu com indignação, por considerar que o trono de São Pedro havia sido profanado. João/Joana teria sido amarrada num cavalo e apedrejada até à morte. Neste trajeto depois foi posta uma estátua de uma donzela com uma criança no colo com a inscrição "Parce Pater Patrum, Papissae Proditum Partum", conforme mais tarde 1375 atestado pelo "Mirabilia Urbis Romae".
Noutro relato, Joana teria morrido devido a complicações no parto, enquanto os cardeais se ajoelhavam clamando: "Milagre, milagre!".

Doc curtinho e interessante sobre a Papisa

A história foi publicada pela primeira vez no século XIII pelo escritor Estêvão de Bourbon (m. 1261), frade dominicano e historiador, reportando-se a lenda ou história espalhada pelos séculos que o precederam (porém sem provas cabais).
Em 1886, voltou a ser difundida pelo escritor grego Emmanuel Royidios no romance A Papisa Joana, traduzido para inglês em 1939 pelo escritor Lawrence Durrell.
Marianus Scoto (1028-1086), historiador alemão e monge beneditino, recluso da abadia de Mogúncia, referindo-se a ela em sua "storia sui temporis clara, segundo ele:
“o papa Leão morreu nas calendas de agosto e foi sucedido por Joana, uma mulher, que reinou durante dois anos, cinco meses e quatro dias".
Martino de Troppan, ou Martinus Polonus, padre dominicano, do século XIII, capelão papal, em Roma, em sua "Chronica Pontificoram et Imperatorum", diz que:
"Depois do papa Leão veio João Anglius, nascido em Mogúncia, que foi papa durante dois anos, sete meses e quatro dias e morreu em Roma após o que houve uma vacân¬cia no papado por um mês."
 a Papisa Joana representada como o Anticristo, montando a Besta do Apocalipse

Sigeberto de Gemblours, monge beneditino (1030-1113), em sua "Chronica", escreveu:
“Houve rumores de que esse João era uma mulher e era conhecida como tal apenas por um companheiro que teve relações com ela e a deixou grávida. Ela deu à luz quando era papa. Por isso alguns historiadores não a incluem na lista dos papas".
Otto de Frisingen (m. 1158), da realeza alemã e bispo de Frisingen, em dos seus sete livros de crônicas narra:
“Há uma interrogação a respeito de um certo papa, ou melhor, papisa, que não é incluído na lista dos papas de Roma porque era uma mulher que se disfarçava de homem. Um dia, quando montava a cavalo, deu à luz uma criança”.
Godofredo de Viterbo, secretário na corte imperial, lá pelo ano de 1185, diz o seguinte:
"Joana, a papisa, não é contada depois de Leão IV".
Jean de Mailly, dominicano francês da cidade de Metz, no ano de 1250, em seu "Chronica Universalis Mettensis", diz:
"Há uma interrogação a respeito de um certo papa, ou melhor, papisa, que não é incluído na lista dos papas de Roma porque era uma mulher que se disfarçava de homem e a motivo de seus grandes talentos tornou-se secretário curial, cardeal e papa. Um dia,quando montava a cavalo, deu à luz uma criança".
Donna Woolfolk Cross; em seu "Pope Joan", editado pela Geraçao Editorial em 496 páginas, traz uma minuciosa narrativa sobre a história, os fatos antecedente e posteriores.
Martin le Franc, (1410-1461), poeta francês, originário da Normandia, reitor em Lausanne e um secretário do papa Nicolau V (1447-1455) e do antipapa Félix V, em seu poema "Le Champion des Dames", faz referência aos paramentos litúrgicos empregados por Joana.

Dennis Barton, em seu "Pope Joan", em uma descrição narrativa e pormenorizada.
Rosemary e Darroll Pardoe; em seu "A papisa Joana" "The female Pope: Ths mistery of Pope Joan" - The First Complete Documentation of the Facts behind the Legend; editado pela Ibrasa: São Paulo: 1990. Biblioteca Histórica, etc; vol. 38; traz uma narrativa pormenorizada, com fontes épocas e ligações históricas.
Alain Boureau; "The myth of Pope Joan", editado pela "University of Chicago", em 05 de janeiro de 2001 - 385 Páginas.
Alexander Cooke, escritor protestante de Oppenheim, em seu "Johanna Papissa toti orbi manifestata", de 1616, que, em defesa à sua memória, voltou a enunciá-la nas calendários papistas, de onde ela até então era (e continua sendo) excluída.
Entretanto, à base dos fatos, o teólogo David Blondel, de Amsterdam em um escrito de 1647 (ver nota e o filósofo alemão Wilhelm Leibnitz, além de enciclopedistas franceses, rotularam a história como falsa. Além destes, seguiram-se outros, como John Thurmaier, o “Aventino” (?-1534), de Abensberg, Baviera, em seu "Annales Boiorum"; Onofre Panvínio (?-1568), de Venenza, em seus escritos datados de 1557; Florimundo de Rernond, em seu livro '"Erreur populaire de la papesse Jeanne", editado em Paris em (1558), que aponta e enuncia as contradições relativas aos fatos sobre a existência histórica do papa Joana e o douto Ignaz von Doellinger e Joan Lockwood O'Donovan, em consideração ao fato consumado de "ser uma lenda", questiona o "onde" e o "por quê" dela ter surgido.


Há um filme sobre ela, feito em 2009.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Márcia X

[o texto e as fotos desta postagem foram retiradas do site oficial da artista. Lá vcs encontraram vários vídeos exclusivos de performances]

Márcia Pinheiro de Oliveira nasceu no Rio de Janeiro, em 1959, e estudou na Escola de Artes Visuais do Parque Lage.Iniciou sua carreira em 1980, com a performance Cozinhar-te, em colaboração com o grupo Cuidado Louças, no 3º Salão Nacional de Artes Plásticas, quando conquistou o Prêmio Viagem ao País. 


Outra performance foi Chuva de Dinheiro (1983), quando Márcia Pinheiro – nome que utilizava na época - e Ana Cavalcanti lançaram enormes notas de CR$ 5 de cima de um prédio na esquina da Av. Rio Branco e Nilo Peçanha, no Rio.


Em 1986 a artista, em parceria com o poeta e artista Alex Hamburguer, realizou intervenção intitulada Triciclage – Música para duas bicicletas e pianos, quando entrou em cena em um pequeno velocípede durante apresentação de John Cage e Jocy de Oliveira, da peça Winter Music, de autoria de Cage, na Sala Cecília Meireles, no Rio.


Adotou o X. de seu nome quando realizou performance em parceria com Alex Hamburguer na Bienal do Livro, em 1985, no Rio. Vestida com duas “não roupas”, uma capa preta e uma outra transparente e sem nada por baixo Márcia Pinheiro despiu-se até ficar nua. Na época a reação da estilista homõnima dizendo dedicar-se a vestir e não despir pessoas fez com que a artista adotasse Márcia X. Pinheiro e posteriormente Márcia X.






Ainda em dupla com Alex Hamburguer Márcia X. realizou diversos trabalhos. Dentre eles destacam-se: Sex Manisse, Macambíada, Pathos, Paixões Paranormais e J.C.Contabilidade.



Em 1987 realizou uma parede com sabão em pedra intitulada Soap Opera, no 6º Salão Paulista de Arte Contemporânea, na Fundação Bienal de São Paulo. Durante o evento, em parceria com Aimberê César, realizou um vídeo de mesmo nome.






Em 1988 realizou sua primeira instalação individual, Ícones do Gênero Humano, no Centro Cultural Cândido Mendes, no Rio. Durante o vernissage, com a galeria vazia, Márcia X. e Aimberê César fotografaram e filmaram todos os presentes e, posteriormente, penduraram as fotos nas paredes.
Em 1990 realiza sua primeira instalação individual Coleção Gênios da Pintura na Galeria Casa Triângulo, São Paulo.


Durante os anos 90 Márcia X. iniciou uma de suas mais marcantes séries – Fábrica Fallus – continuou a desenvolver até 2005.







Segundo Sergio Bessa, em seu texto X-Rated (duas ou três coisas qu’eu sei dela) para a Revista Item, “Márcia X. repetidamente assume uma entidade infantil. Na instalação Arte Erõtica (MAM, 1993) e na sua individual na Galeria Sérgio Porto (1995), por exemplo, a escala dos trabalhos bem como a escolha de os instalar ao nível do chão convidava o espectador a assumir uma postura (física) que o trouxesse ao nível da criança. Para devidamente apreciar sua arte o espectador deveria regredir a um estado infantil. Esta estratégia é ambiguamente passiva e agressiva, pois transforma objetos pornográficos em brinquedos infantis, ao mesmo tempo que torna brinquedos infantis em agressivos objetos erõticos”.


Em 2002 participou, em parceria com Ricardo Ventura, com a performance Complexo de Alemão do evento Riocenacontemporânea, no Largo da Carioca, Rio.




Em 2003 a dupla realiza outra coletiva: Grande Orlândia - Artistas Abaixo da Linha Vermelha, a terceira e última da série. No mesmo ano realizou também em parceria com Ricardo Ventura a performance Poralelogramo no evento Alfândega, no Armazém 5, no Cais do Porto, Rio. No mesmo ano participou do MIP- Manifestação Internacional de Performance, organizada pelo Centro de Estudos e Informação de Arte, Belo Horizonte.

A partir de 2000 Márcia X. viu reconhecido seu trabalho por parte da crítica especializada. Inúmeros convites se seguiram e, entre os mais importantes podem ser destacadas suas participações no Panorama das Artes (São Paulo e Rio) com a performance Pankake, na Bienal do Mercosul (Porto Alegre), com a performance Ação de Graças, e na instalação Os 90 (Rio), com a instalação Reino Animal. É deste ano a performance Desenhando com Terços, realizada pela primeira vez na Casa de Petrõpolis. Nela Márcia X., de camisola branca, usou 400 terços para realizar desenhos de pênis no chão em uma sala de cerca de 20 metros quadrados.


Em 2003 e 2004 realizou duas das mais emblemáticas performances de sua carreira: Alviceleste e Cadeira Careca / Le Chaise Chouve, respectivamente. Na primeira, nas Cavalariças da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Márcia despejou tinta azul de caneta tinteiro em funis de vidro pendurados no teto. A tinta escorria por finas correntes e impregnava o chão de gesso formando manchas azuis. Na segunda, em parceria com Ricardo Ventura, barbeou uma chaise longue Le Corbusier Le Cobusier, Charlotte Perriand e Pierre Jeanneret, de couro de vaca, nos pilotis do edifício Gustavo Capanema, antiga sede do Ministério da Cultura, no centro do Rio. Nesta homenagem a Le Courbusier os artistas citaram também Le Dejeuner en Fourrure, de Meret Oppeheim, obra fundamental para o movimento surrealista.




Com uma carreira firme e independente, imune às críticas e sucessivos cortes de participação em salões e outras mostras e também à censura e ao cancelamento de diversas performances, Márcia X. foi uma artista como poucas. Sempre atenta à sua importância no meio artístico, Márcia X. seguiu em frente, lutando contra o que chamou de “enorme descrédito em relação à performance”.

Morreu em 2005.

Rosalind Franklin


Rosalind Franklin (Londres, 25 de julho de 1920 — Londres, 16 de abril de 1958) foi uma biofísica britânica.

Pioneira da biologia molecular que, empregando a técnica da difração dos raios-X, concluiu que o DNA tinha forma helicoidal (1949).

A vida da biofísica britânica (...) foi repleta de controvérsias. Ela foi responsável por parte das pesquisas e descobertas que levaram à compreensão da estrutura do ácido desoxirribonucleico (DNA, na sigla em inglês). Essa história, porém, é um conto de competição e intriga, descrito de uma maneira por James Watson & Francis Crick - que elaboraram o modelo da dupla hélice para a molécula de DNA - e (de) outra por quem defende Franklin como pioneira injustiçada na biologia molecular. James Watson, Francis Crick e Maurice Wilkins receberam um prêmio Nobel por seus estudos em 1962, quatro anos após a morte de Rosalind Franklin, aos 37 anos, vítima de câncer de ovário. Sua contribuição não foi reconhecida na época.

Quadrinho de Kate Beaton, retirada de seu site.

Contrariando o desejo dos pais, aos 15 anos ela decidiu que queria ser cientista. Entrou em 1938 no Newnham College, em Cambridge, graduando-se em físico-química (1941). Iniciou como pesquisadora (1942) analisando a estrutura física de materiais carbonizados utilizando raios-X. Trabalhando no British Coal Utilization Research Association, onde desenvolveu estudos fundamentais sobre as microestruturas docarbono e do grafite, base do doutorado em físico-química pela Universidade de Cambridge (1945).


Trabalhando em Paris (1947-1950), no Laboratoire Central des Services Chimiques de L'Etat, usou a técnica da difração dos raios-X para análise de materiais cristalinos. Voltando para a Inglaterra, juntou-se a equipe de biofísicos do King's College Medical Research Council (1951) e com Raymond Gosling no laboratório de biofisica do britânico Maurice Wilkins, e iniciou a aplicação de estudos com difração do raio-X para determinação da estrutura da molécula do DNA. Este trabalho permitiu ao bioquímico norte-americano James Dewey Watson e aos britânicos Maurice Wilkins e Francis Crick confirmar a dupla estrutura helicoidal da molécula do DNA, dando-lhes o Nobel de Fisiologia/Medicina (1962), sendo ela a grande injustiçada, já que o Nobel não pode ser atribuído postumamente.
Um pouquinho sobre ela, infelizmente não achei nada legendado.

Apesar das inúmeras dificuldades provocadas pelo preconceito, ela provou então ser uma cientista de primeiro nível, e mudou-se (1953) para o laboratório de cristalografia J. D. Bernal, do Birkbeck College, em Londres, onde prosseguiu com seu trabalho sobre a estrutura mosaical do vírus do tabaco. Quando iniciou sua pesquisa sobre o vírus da póliomielite (1956), ela descobriu que estava com câncer. Foi no Birkbeck Collegeaos que publicou seu último trabalho, sobre as estrutura do carvão (1958). Morreu em Londres ainda muito jovem, 37 anos, de câncer no ovário.


sexta-feira, 19 de julho de 2013

Amanda Palmer


Amanda MacKinnon Gaiman Palmer, nascida em 30 de abril de 1976, também conhecida como Amanda Fucking Palmer, é uma artista americana que chegou à fama como vocalista, pianista e compositora da dupla The Dresden Dolls. Ela teve uma carreira solo de sucesso e é a vocalista e compositora do Amanda Palmer and the Grand Theft Orchestra.


Amanda nasceu em Nova York, e cresceu em Lexington, Massachusetts. No colégio esteve envolvida com o departamento de drama e frequentou a Universidade de Wesleyan onde era integrante da Eclectic Society, ela encenou performances com base no trabalho pelos Legendary Pink Dots, uma influência anterior. Formou o Shadowbox Collective, dedicado ao teatro de rua.


Amanda é feminista, sem papas na língua, bissexual e casada com o quadrinista e escritor Neil Gaiman. Já fez músicas sobre aborto, sexo, amor livre, depilação, drogas e nudez. Mais foda impossível.

música e clipe fantásticos!

A seguir, copio uma entrevista dada à Natacha Cortês, da revista TPM, em 2012.

Tpm. Você parece ser uma artista livre. Seu comportamento diante dos fãs e diante da indústria musical parece muito livre também. A impressão é que apenas faz de acordo com a sua vontade. Como é manter essa postura? Deve haver um preço a se pagar por ser assim. Amanda. Não é difícil, nem tão custoso assim. É fácil porque é o que quero, então é muito natural. Eu não queria chegar no ponto onde cheguei pra ser rica, ou famosa. Eu queria desesperadamente me conectar às pessoas, para encontrar meus amigos, minha comunidade. O dinheiro e a fama vêm, são muito bem vindos, mas eles não são o que eu procurava. Eu procurava por abraços, amor, conexão, o choro junto. Assim é fácil. A única coisa que é difícil é que também é difícil para as pessoas entenderem: minha agenda é diferente de um artista pop que só quer fazer seu dinheiro e obter uma mansão em Beverly Hills. Eu não vejo isso como um jogo que você pode ganhar. Eu acho que você só tem a ganhar quando você está dentro, feliz de fato, sentindo o verdadeiro amor, amando a si mesmo, agindo por amor. Dinheiro e fama não compram essas coisas.

Você é bissexual e tem uma relação livre e aberta com seu marido. É isso mesmo? Você ainda acredita no conceito do amor romântico? Acha que um casal pode ser feliz para sempre com uma relação sem controle e os sentimentos clichês como o ciúme? É verdade. E eu acredito no amor mais do que qualquer outra coisa no mundo. Eu amo um monte de gente, e eu odeio que me digam o que fazer. Amor e sexo são conectados, mas eles não são a mesma coisa. Eu, principalmente, acho que você precisa do amor para construir um relacionamento para ser tão honesto, tão real, tão aberto quanto possível. Mas não machucar o outro. Você deve dizer tudo um ao outro. E esse é o tipo de relação que eu sempre quis. Durante anos tive namorados que eram possessivos, ciumentos, não podiam entender como e porque eu gostava de fazer sexo com outra pessoa só pra me divertir. Neil [Neil Gaiman] não só entende isso sobre mim, mas ele celebra. Amor, se é real, pode conquistar qualquer coisa. Penso que as relações que estão apenas jogando por todas as regras são infelizes, uma vez que a comunicação é menos sobre o que as pessoas realmente querem, precisam e esperam, mas o que elas devem fazer. Não se pode comprar um conjunto de regras de relacionamento em uma prateleira. Você precisa se entregar, ser verdadeiro, se arriscar. E muitas pessoas não vão ter tempo, nem ousadia para fazer isso, porque é  pode parecer assustador. Ser de verdade é assustador e demanda muita coragem.


Na canção "Map of Tasmania", do disco Amanda Palmer Goes Down Under, você fala de depilação. Mostra que não importa para uma mulher o cuidado exagerado sobre esta questão. Como é dizer isso para uma geração que está tão presa na idéia de corpos perfeitos e limpos? Você acha que a mulher hoje é livre o suficiente para não se importar tanto com a aparência? Eu acho que o grande problema que temos como mulheres é que não podemos encontrar a "área cinza", um lugar sem julgamentos. Há tanta crítica sobre o que significa você se depilar, não usar maquiagem, saltos, e tudo mais. É confuso, especialmente para as meninas mais jovens, que estão crescendo em uma cultura onde lhes é dito por um lado pra serem fortes, únicas, poderosas e pra que falem por si mesmas, e por outro lado são informadas de que há apenas um uniforme aceitável para sensualidade. Dói ver, especialmente após o quão longe chegamos nos últimos 50 anos, como mulheres. Como com muitas outras coisas, eu acredito que esta questão é escolha. Você está livre para usar botas, sapatos de salto, muita maquiagem, ou nenhuma. Depilar-se, ou deixar os pêlos crescerem. Experimentar, encontrar o seu próprio estilo. E isso deixa as pessoas malucas. Eu sempre acho engraçado quando eu uso saltos gigantes e faço penteados de estrela de cinema e depois mostro minhas axilas peludas para as pessoas. Eles agem como se não pudessem entender aquilo. Portanto, esse é um bom desafio para todas as mulheres: foda-se. Faça o que quiser. Absolutamente qualquer combinação é possível. É a única maneira de quebrar o sistema terrível no qual estamos presos: experimentando.


Para o seu novo álbum Theatre is evil, você conseguiu dinheiro através de crowdfunding. Como está sendo a experiência de fazer um álbum e promovê-lo sem a interferência das gravadoras? É um disco mais livre por isso? É totalmente livre. Eu nunca tive tanta liberdade pra fazer um trabalho. É um disco poderoso, é um disco pop, o que é uma loucura, mas é o que saiu de mim. Dançar, chorar, tudo ao mesmo tempo. Isso é o que eu queria com ele. Nós o chamamos de "cracing" (uma mistura de cry comdancing). E a banda que me acompanha é maravilhosa, só gênios. E as as críticas têm chamado este de o melhor disco que eu já fiz. Então, eu estou muito orgulhosa de todos nós. De mim, da banda, dos fãs que pagaram por isso. Eu sinto mesmo é que é Natal todos os dias.


Suas letras falam sobre sexo, drogas, aborto e qualquer outro assunto, sem censura, sem pudores. 
Sim. Eu acho que toda mulher tem que fazer qualquer escolha por si mesma. Tanto quanto drogas e sexo, o que for. Vou defendê-las e suportá-las. Sexo é incrível. Drogas, quando usadas sabiamente, também podem ser incríveis. Eu diria a mesma coisa sobre os três: tudo é possível, mas não seja um idiota sobre nada. Sexo, drogas e aborto podem dar errado. Aja com sabedoria. Mas faça essas escolhas sempre para si mesmo. 

Você acredita que sua música é a maior potência de sua personalidade? Eu não sei. Eu tento não analisar muito a minha música. Eu sou, antes de tudo, uma artista. Uma socializadora. Uma partidária do ser humano. A música é a ferramenta perfeita para tudo o que eu tenho feito em toda a minha vida. Mas eu não gosto de me sentir amarrada por ela, ou por minhas canções. As músicas são apenas histórias, histórias de momentos. E às vezes, uma música é realmente melhor do que um telefonema para alguém. Às vezes, as músicas são uma forma de se esconder. Em outras, elas podem fazer maravilhas, ainda melhor do que uma carta de amor. Mas você nunca sabe. Seu poder é misterioso é por isso que ele é tão incrível. E disso que eu gosto. Gosto de saber que eu nunca vou saber a resposta real disso tudo. E enquanto eu não sei a resposta, a magia nunca vai embora.


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E agora vamos a treta: Amanda fez um show no festival de Glastonbury, e o tablóide Daily Mail publicou uma foto onde aparece um dos seios dela. (fico pensando na nossa maravilhosa Cassia Eller mostrando os peitos no RockinRio). Enfim, é só conferir a foto da matéria pra ver o tom escroto da coisa.


O que realmente interessa é que Amanda resolveu responder diretamente o tablóide, escrevendo uma música impagável sobre o caso. Dá uma olhada no vídeo da canção, onde é idéia é "calma porra, é apenas uma mulher nua!":


Segue a tradução da canção, que eu peguei do blog Contraversão.

“Caro Daily Mail,
Recentemente fiquei sabendo
que minha última apresentação no Festival de Glastonbury recebeu uma menção carinhosa
Eu estava lá fazendo uma porção de coisas no palco incluindo cantar
(como vocês também fazem…)
mas vocês preferiram ignorar essa parte e publicar uma matéria analisando meu peito
Querido Daily Mail,
existe um negócio chamado site de pesquisa: use!
se vocês tivessem procurado meus peitos no google antes teriam descoberto
que as fotos que tiraram estão longe de serem exclusivas
aliás, vocês declaram que meu seio escapou do meu sutiã como um ladrão fugitivo
como vocês sabem que ele não estava só querendo tirar uma lasquinha do
RARO sol britânico?
Caro Daily Mail,
é tão triste o que vocês tablóides fazem
seu foco na degradação da aparência feminina arruína nossa espécie humana
mas jornalecos serão sempre jornalecos e longe de mim querer censurar
qualquer um OH NÃO
parece que meu corpo inteiro está tentando escapar deste kimono…
Caro daily mail,
bando de misógenos arrombados
cansei dessas barriguinhas de grávida, flagras de vaginas, capôs de fusca
e PINTO que é o que interessa, cadê?
se iggy ou jagger ou bowie tirarem a camisa ninguém nem liga
blá blá blá feminista blá blá blá bobeira de gênero blá blá blá
OH MEU DEUS UM MAMILO
caro daily mail,
vocês nunca vão escrever sobre esta noite
sei disso porque respondi vocês diretamente e isso faz a briga perder a graça
mas graças ao pessoal da internet o mundo todo pode ouvir esse discurso
e dividir com uma sala cheia de gente em londres
que não está bebendo kool- aid como vocês
e embora haja milhões de pessoas que aceitarão o padrão cultural que vocês impõem
Há muitas outras que estão perfeitamente dispostas a ver seios em seu habitat natural
espero ansiosa pela cobertura altamente culta de vocês sobre minhas
próximas turnês
caro daily mail
PAU NO SEU CU.
……………
Uma curiosidade: mágicos nunca revelam seus segredos, mas sou uma musicista muito feliz em revelar os meus.
O começo da melodia / a valsa foi DIRETAMENTE chupada da “Valsa para Eva e Che”, de EVITA. Weber e Rice, me processem… vai tornar isso tudo ainda mais interessante (mas falando sério, adoro Evita e era um dos meus discos favoritos quando era mais nova)
Com amor,
AFP


E é aí que eu pergunto: tem como não se apaixonar por uma mina dessa?



Betty Friedan


Betty Friedan foi uma escritora norte-americana, ativista e feminista. Nascida Bettye Naomi Goldstein em 4 de fevereiro de 1921, em Peoria, Illinois, filha de Harry e Miriam (Horwitz) Goldstein, cujas famílias eram de judeus da Rússia e da Hungria. 


Quando adolescente, Friedan era ativa nos círculos tanto marxistas quanto judaicos, e escreveu mais tarde como ela se sentia as vezes isolada como se estivesse na última comunidade do mundo, o que a fez sentir "paixão contra a injustiça ... que se originou a partir de meus sentimentos de injustiça do anti-semitismo". Envolveu-se no jornal da escola no ensino médio. Quando seu pedido para escrever uma coluna foi recusado, ela e outros seis amigos lançaram uma revista literária chamada Tide, que discutiu a vida em casa, em vez de vida escolar.


Entrou na faculdade feminina Smith em 1938. Ela ganhou uma bolsa de estudos em seu primeiro ano pelo excelente desempenho acadêmico. Em seu segundo ano, ela tornou-se interessada em poesia, e tinha muitos poemas publicados em periódicos do campus. Em 1941, ela tornou-se editor-chefe do jornal da faculdade. Os editoriais tornou-se mais políticos sob a sua liderança, tendo uma forte postura anti-guerra e, ocasionalmente, causando polêmica. Ela se formou summa cum laude em 1942, com especialização em psicologia.


Figura de liderança no movimento das mulheres nos Estados Unidos, seu livro de 1963, A Mística Feminina (The Feminine Mystique) é creditado frequentemente com desencadeador da "segunda onda" do feminismo norte-americana do século 20. Em 1966, Friedan fundou e foi eleita a primeira presidente da Organização Nacional para as Mulheres, que visavam trazer as mulheres "para o mainstream da sociedade americana agora totalmente igual parceria com os homens".


Sobre seu livro mais famoso, há uma síntese na wikipedia:
A Mística Feminina (em inglês: The feminine mystique) é um livro da autoria de Betty Friedan e publicado em 1963, tornando-se num dos mais importantes livros do século XX.
O livro foi resultado de anos de pesquisa da autora, que entrevistou mulheres que seguiam os preceitos dos anos 1940 e 1950 (nos quais as atividades femininas ficaram restritas à atuação como donas-de-casa), quanto empresários, médicos e publicitários.
A idéia central do livro está na observação de que a mulher foi mistificada após a Crise de 1929 e mobilização para a Segunda Guerra Mundial, sendo considerada fundamentalmente como mãe e esposa zelosa. Assim, a educação da menina desde a infância não a estimulava a ser independente, mas a desenvolver habilidades apenas para se casar e viver em função dos filhos e do marido. Com o passar dos anos, a mulher se sentia frustrada e desenvolvia diversos distúrbios psicológicos que oscilavam da depressão ao consumismo.
Como no período pós-Segunda Guerra foi também a solidificação do progresso estadunidense e do "american way of life", foi possível concluir que a frustração feminina de apenas viver para os outros era canalizada para aumentar o consumo desse período. Dessa forma, as desigualdades de tratamento entre mulheres e homens eram usadas para justificar uma obrigatória dedicação ao lar que era compensada pelo estímulo à economia da época através do incremento das frustrações e opressão femininas no âmbito doméstico.

Em 1970, após deixar o cargo como primeira presidente da NOW, Friedan organizou uma greve das mulheres em todo o país para a Igualdade no dia 26 de agosto, o 50 º aniversário da décima nona alteração à Constituição dos Estados Unidos que concede às mulheres o direito de votar. A greve nacional foi um sucesso além das expectativas na ampliação do movimento feminista; sozinho a marcha liderada por Friedan em Nova York atraiu mais de 50 mil homens e mulheres. Em 1971, Friedan se juntou a outras líderes feministas para estabelecer o National Women's Political Caucus. Friedan também foi uma forte defensora dos direitos de alteração de proposta de igualdade da Constituição dos Estados Unidos, que passou pela  Câmara dos Deputados dos Estados Unidos (por um voto de 354-24) e do Senado (84-8), após intensa pressão por grupos de mulheres liderada pela NOW no início de 1970. Após a passagem da alteração pelo Congresso, Friedan defendeu a ratificação da alteração nos estados e apoiou as reformas de direitos de outras mulheres: ela fundou a Associação Nacional para a Revogação das Leis do aborto, mas mais tarde foi crítico das posições centradas no aborto de muitas feministas liberais.

infelizmente o vídeo não tem legenda, mas fica o registro dela em movimento.


Considerado como uma autora e intelectual influente nos Estados Unidos, Friedan permaneceu ativa na política e na advocacia pelo resto de sua vida, onde publicou seis livros. Já em 1960 Friedan foi crítico de facções extremistas e polarizadas do feminismo que atacaram grupos como os homens e as donas de casa. Um de seus livros, A Segunda Fase (The Second Stage, 1981), criticou o que Friedan viu como os excessos extremistas de algumas feministas que poderiam ser classificados como feministas de gênero.

Friedan morreu de insuficiência cardíaca em sua casa em Washington, DC, em 4 de fevereiro de 2006, seu 85 º aniversário.